Crónicas:Ninguém Mora Num Quinto Andar Sem Elevador
Vejamme so esta arte sublime de escrita, qual saramago....
Isto vem do meu amigo luis, colega de universidade a falar da casa do Hugo...
Duas horas! Duas horas e uma mão dorida… não, não estive a fazer perversões, estive sim a tentar limpar aquele magnífico fogão que paira na fatídica cozinha! Epá, torna-se inglório o esforço que fiz só para que o nosso fogo de cozinha ficasse minimamente apresentável. Tudo bem, não estava muito suja a parte principal, aquela que se suja mais, onde se derrama a água do arroz, onde caiem uns bagos, ou até onde saltam uns niquitos da cebola, mas a porcaria que estava nos botões vai lá vai… mas como, pergunto eu, pode ser possível haver cola com idade tão avançada de fossilização no manípulo de abertura do fogão?!?! Só desisti mesmo quando finalmente cheguei ao tampo de vidro, ou plástico misturado com vidro ou lá que seja. Na parte de cima, bem, o esfregão até deslizou normalmente tendo em conta as quantidades de água que foram espremidas, no entanto quando a minha consciência higiénica se ergueu e fez frente à réstia de preguiça que ainda tinha, e decidiu atacar a parte de dentro do tampo do fogão, a que está vulnerável ao regular bombardeamento de óleo que atinge o seu auge com a fritura das batatas, esquece!!!! Completamente, esquece!!! Perdi a batalha. Atenção, perdi a batalha mas não a guerra! Havia uma camada oleaginosa, nada de assustador, forte, tão segura como se lá morasse desde o tempo dos dinossauros, que nem o poder tsunaminoso do esfregão palha-d’aço conseguiu demover uns quantos hotéis e umas tantas estâncias turísticas de uns tais senhores agentes da sujidade resultantes de experiências culinárias que envolviam uns tomates saborosíssimos ou até de batatinhas fritas a cerveja… Mas deixa estar, que deixei lá uma boa quantidade de limpeza que com sorte vai-me permitir um avanço estratégico sublime e vitorioso sobre o Reino da parte de cima do fogão, a mais fulcral peça neste jogo. Mesmo assim, tenho a secreta (que deixa assim de ser segredo) ambição de lutar por um mundo um pouco mais obscuro… o forno! De facto, este exagero, pois não se trata de forma alguma de uma obsessão, começa a despontar em mim um traço de personalidade irritante… a de querer ter orgulho, ou melhor, deixar de ter alguma vergonha de vez em vez com a fonte sagrada de sabores e aromas que é a cozinha. Daqui podem-se tirar conclusões: tou a ficar velho, carrancudo e resmungão ou estou numa fase de «benchmarking», exigente com o que tenho e o que faço, extremamente influenciado pelo o que os outros têm e o que os outros fazem. Qualquer das opções desagrada-me, porque eu devia era tar borrifando-me para isto e ando para aqui a gastar massa cinzenta em assuntos de dona de casa!
Tanta palha quando a questão principal é: porque é que a porra do fogão está(va) tão degradante? Isto numa altura em que o novo canal RTP Memória está a passar o Sporting-Benfica de 1963, depois de neste fim-de-semana já ter passado o Sporting 7- Benfica 1 e o Sporting 3-Benfica 6 de 1994! O Rui Tovar!!! Voltando ao assunto; não sei bem explicar porque esta higiene me incomoda tanto; desde pequeno, lá de volta dos lagares, na adega, na altura da vindima, na altura de fazer o vinho, andava lá eu todo feliz, orgulhoso por estar a ajudar a «criar» o vinho, que o meu pai me diz que o segredo para fazer um bom vinho está no higiene e na constante e contínua desinfecção (nem que fosse só água) de todos os instrumentos, máquinas e compartimentos utilizados. Insistia sempre, perguntando se eu já tinha lavado isto, passado por água aquilo, se o garrafão tinha nem que fosse um ínfimo de cheirinho a vinagre… e repetia que os outros, esses por vezes nem nunca se dignavam a sequer lavar um lagar durante toda a vindima, ou porque estavam-se lixando para a qualidade do vinho, ou porque não eram eles os patrões ou porque puro e simplesmente «eram uns porcos»! Agora, o que me confunde é o seguinte: porque razão nesta saga da limpeza, é que nesta cozinha saem sempre os melhores pratos, com molhos orgásmicos e satisfações invariavelmente garantidas? É que por mais limpa que esteja, não deixará de ser o pior sítio onde tenhamos cozinhado, pelo menos entre portas…
E à conta disto a quantidade de água que se gasta!
Luís
Próximas sagas:
O Balde do Lixo
O Chão da Casa de Banho
O Sétimo Degrau do Nono Lanço das Escadas
O Pano da Cozinha Que Era Branco e Agora É Preto
Os Girinos Do Vaso Da Varanda
A DESPENSA Da Varanda!!